4 de setembro de 2015

Lesma do mar fotossintetizante

Quando falamos em fotossíntese, imediatamente pensamos nas plantas como os únicos organismos capazes de realizar esse processo. No entanto, conforme foi descoberto em 2010, em um estudo publicado no Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, existem lesmas do mar capazes de utilizar a fotossíntese como fonte de energia. A equipe estudou a espécie Elysia timida, coletadas no mar Mediterrâneo e mantidas em aquários, mas já se conhece outras espécies que fazem o mesmo processo, como por exemplo, a Elysia chlorotica e a Costasiella kuroshimae. Essas criaturas marinhas representam os nudibrânquios que constituem uma subordem de moluscos gastrópodes marinhos pertencente à ordem dos opistobrânquios.

Elysia timida

Elas se alimentam de algas verdes, que, como as plantas, possuem estruturas verdes chamadas cloroplastos que captam a luz e a convertem em energia útil. Lesmas do mar são capazes de incorporar os cloroplastos que ingerem em seus próprios tecidos, retendo-os por mais de seis meses. Segundo Dr. Bruno Jesus do Centro de Oceanografia da Universidade de Lisboa, em Portugal, “Lesmas marinhas nascem sem cloroplastos e tem que adquiri-los através do ‘roubo’ a partir de sua fonte de alimento, as algas. O animal adquiri uma característica metabólica nova e pode fazer fotossíntese como uma planta”.

Cloroplastos não são módulos independentes, que podem ser facilmente separados da sua célula hospedeira e implantados em outra. Eles são os resquícios de bactérias uma vez independentes que formaram uma forte aliança com células de plantas antigas e algas, e acabaram perdendo sua autonomia e tornando-se parte integrante de seu parceiro, naquilo que chamamos de teoria endossimbiótica.

Costasiella kuroshimae

A chave para o sucesso entre lesmas do mar e cloroplastos é provavelmente a apropriação de genes vitais das algas que permite que a lesma use o cloroplasto. Esses animais descobriram uma maneira de corrigir seu próprio genoma para torná-lo compatível com a fotossíntese (o gene roubado é chamado psbO e codifica a proteína MSP, importante para as reações químicas da fotossíntese e encontrada em todas as espécies que têm essa capacidade).

Elysia Chlorotica
De acordo com o Dr. Jesus, “Lesmas do mar movidas à luz usam o melhor dos dois mundos”. Isso por que elas se comportam e se movem de determinadas maneiras que variam a quantidade de luz a que são expostas. Se a luz é muito intensa, elas se enrolam para limitar o número de cloroplastos expostos. Com pouca luz, elas achatam seus corpos em uma forma de folha, aumentando a quantidade de raios de sol absorvidos. Além disso, eles aumentam a quantidade de energia que os cloroplastos produzem através do aproveitamento de um mecanismo fisiológico chamado ciclo de xantofila, que envolve o uso de pigmentos para transferir elétrons. Plantas geralmente usam este processo químico para evitar danos causados pela luz excessiva. As lesmas marinhas também utilizam este mecanismo para impedir que seus tecidos sejam danificados pela luz intensa, mas também podem usá-lo para absorver a luz por períodos muito mais longos do que as algas conseguem.

Diante desta descoberta fantástica, é impossível deixar de imaginarmos, em um futuro distante, um animal que seja completamente compatível com cloroplastos. As possibilidades são grandes e a natureza já demonstrou um indicio de que isso aconteça em algum momento. 



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